terça-feira, 13 de março de 2012

Comemoração do aniversário da escola: caricaturas dos funcionários


Na comemoração do 29º aniversário do Colégio Estadual João Durval Carneiro foi proposta uma atividade onde os alunos produziram caricaturas dos funcionários:
Professor Leandro
Professor Leandro

Joel, o porteiro


Joel, o porteiro 
Joel, o porteiro 




Professor Marcelo Aranha
Professor Marcelo Aranha


Professora Magda


Iniciamos, oficialmente, as postagens deste blog, comemorando o 29º aniversário do Colégio Estadual João Durval Carneiro e, também, O DIA DA POESIA, que é festejado no dia 14 de março, em homenagem ao poeta baiano Antonio Figueiredo de Castro Alves (1847 - 1871).

                                                          Professores da área de Humanas e suas tecnologias


Vozes d'África

Deus! ó Deus! onde estás que não respondes? 
Em que mundo, em qu'estrela tu t'escondes 
Embuçado nos céus?

Há dois mil anos te mandei meu grito, 
Que embalde desde então corre o infinito... 
Onde estás, Senhor Deus?...

Qual Prometeu tu me amarraste um dia 
Do deserto na rubra penedia 
- Infinito: galé! ...

Por abutre - me deste o sol candente, 
E a terra de Suez - foi a corrente 
Que me ligaste ao pé... 
O cavalo estafado do Beduíno 
Sob a vergasta tomba ressupino 
E morre no areal.

Minha garupa sangra, a dor poreja, 
Quando o chicote do simoun dardeja 
O teu braço eternal. 
Minhas irmãs são belas, são ditosas... 
Dorme a Ásia nas sombras voluptuosas 
Dos haréns do Sultão.

Ou no dorso dos brancos elefantes 
Embala-se coberta de brilhantes 
Nas plagas do Hindustão.

Por tenda tem os cimos do Himalaia... 
Ganges amoroso beija a praia 
Coberta de corais ... 
A brisa de Misora o céu inflama;

E ela dorme nos templos do Deus Brama, 
- Pagodes colossais... 
A Europa é sempre Europa, a gloriosa! ... 
A mulher deslumbrante e caprichosa, 
Rainha e cortesã.

Artista - corta o mármor de Carrara; 
Poetisa - tange os hinos de Ferrara, 
No glorioso afã! ... 
Sempre a láurea lhe cabe no litígio... 
Ora uma c'roa, ora o barrete frígio 
Enflora-lhe a cerviz. 
Universo após ela - doudo amante 
Segue cativo o passo delirante 
Da grande meretriz. 



Mas eu, Senhor!... Eu triste abandonada 
Em meio das areias esgarrada, 
Perdida marcho em vão! 
Se choro... bebe o pranto a areia ardente; 
talvez... p'ra que meu pranto, ó Deus clemente! 
Não descubras no chão... 
E nem tenho uma sombra de floresta... 
Para cobrir-me nem um templo resta 
No solo abrasador... 
Quando subo às Pirâmides do Egito 
Embalde aos quatro céus chorando grito:

"Abriga-me, Senhor!..."

Como o profeta em cinza a fronte envolve, 
Velo a cabeça no areal que volve 
O siroco feroz... 
Quando eu passo no Saara amortalhada... 
Ai! dizem: "Lá vai África embuçada 
No seu branco albornoz. . . " 
Nem vêem que o deserto é meu sudário, 
Que o silêncio campeia solitário 
Por sobre o peito meu.

Lá no solo onde o cardo apenas medra 
Boceja a Esfinge colossal de pedra 
Fitando o morno céu. 
De Tebas nas colunas derrocadas 
As cegonhas espiam debruçadas 
O horizonte sem fim ... 
Onde branqueia a caravana errante, 
E o camelo monótono, arquejante 
Que desce de Efraim 

Não basta inda de dor, ó Deus terrível?! 
É, pois, teu peito eterno, inexaurível 
De vingança e rancor?... 
E que é que fiz, Senhor? que torvo crime 
Eu cometi jamais que assim me oprime 
Teu gládio vingador?! 

Foi depois do dilúvio... um viadante, 
Negro, sombrio, pálido, arquejante, 
Descia do Arará... 
E eu disse ao peregrino fulminado: 
"Cão! ... serás meu esposo bem-amado...

- Serei tua Eloá. . . "

Desde este dia o vento da desgraça 
Por meus cabelos ululando passa 
O anátema cruel. 
As tribos erram do areal nas vagas, 
E o Nômada faminto corta as plagas 
No rápido corcel. 
Vi a ciência desertar do Egito... 
Vi meu povo seguir - Judeu maldito -
Trilho de perdição. 
Depois vi minha prole desgraçada 
Pelas garras d'Europa - arrebatada -
Amestrado falcão! ...

Cristo! embalde morreste sobre um monte 
Teu sangue não lavou de minha fronte 
A mancha original. 
Ainda hoje são, por fado adverso, 
Meus filhos - alimária do universo, 
Eu - pasto universal...

Hoje em meu sangue a América se nutre 
Condor que transformara-se em abutre, 
Ave da escravidão, 
Ela juntou-se às mais... irmã traidora 
Qual de José os vis irmãos outrora 
Venderam seu irmão.

Basta, Senhor! De teu potente braço 
Role através dos astros e do espaço 
Perdão p'ra os crimes meus! 
Há dois mil anos eu soluço um grito... 
escuta o brado meu lá no infinito, 
Meu Deus! Senhor, meu Deus!!...

(Castro Alves)

São Paulo, 11 de junho de 1868